Proteja quem você mais ama: Prevenção de Acidentes por Afogamento Infantil

Nada é mais precioso do que a segurança e bem-estar de nossas crianças. Infelizmente, os afogamentos são uma das principais causas de morte acidental entre os jovens. É crucial entender os riscos e adotar medidas preventivas para garantir a segurança dos nossos pequenos.

No mundo, ocorrem aproximadamente 500 mil afogamentos por ano.
Crianças, adolescentes e idosos são os grupos etários com maior probabili dade
de afogamento. Os meninos entre 5 e 14 anos de idade têm o afogamento
como a primeira causa de morte; as meninas o têm como a quinta causa.

Por que os afogamentos acontecem? Muitas vezes, ocorrem em piscinas, banheiras, lagos, praias e até mesmo em baldes de água. Mesmo em locais rasos ou com pouca água, os perigos persistem. Crianças podem se afogar em apenas alguns centímetros de água, em questão de segundos.

Felizmente, a maioria dos afogamentos pode ser prevenida. Educação e supervisão são fundamentais. Ensine suas crianças sobre os perigos da água e a importância de não nadar sozinho. Mantenha sempre uma supervisão atenta quando estiverem na água, mesmo que saibam nadar.

Além disso, certifique-se de que piscinas tenham cercas seguras ao redor, com portões trancados, para evitar acesso não supervisionado. Mantenha equipamentos de segurança, como boias e dispositivos de flutuação, à mão. E, claro, aprenda técnicas de primeiros socorros para agir rapidamente em caso de emergência.

Definição

Afogamento é o dano respiratório causado por submersão ou imersão
em líquido não corporal, com presença de interface ar/água nas vias aéreas
da vítima e consequente impedimento da respiração. Essa nomenclatura é
utilizada independentemente de o episódio de afogamento ter levado ou
não a vítima à morte.

Os termos “afogamento seco”, “afogamento com ou sem aspiração”,
“afogamento secundário”, “afogamento ativo/passivo” e “quase-afogado”
não são mais utilizados.

Fisiopatologia

O processo de afogamento tem início quando as vias aéreas da vítima se encontram submersas. A sequência de eventos não está totalmente esclarecida, porém, acredita-se que haja parada voluntária da respiração, seguida de laringoespasmo secundário à presença de líquido na orofaringe ou na laringe, estando a vítima impedida de respirar. Consequentemente, não há trocas gasosas, o que resulta em hipóxia e em acidose. Em seguida, ocorre aspiração de líquido, com desequilíbrio da relação ventilação-perfusão, edema pulmonar, microatelectasias e diminuição da complacência pulmonar, agravando ainda mais a hipoxemia.

Anteriormente, acreditava-se que os efeitos hemodinâmicos e eletrolíticos do afogamento dependiam da osmolaridade da água aspirada (água doce ou salgada). Entretanto, após diversos estudos em animais e em humanos, concluiu-se que essas alterações estão diretamente ligadas ao efeito da hipóxia, independentemente do tipo de água aspirada.

A hipotermia também é responsável por várias alterações metabólicas, especialmente em crianças, cuja superfície corporal é proporcionalmente maior que a massa muscular. Em uma temperatura em torno de 30°C, ocorre queda de pressão e de consumo de oxigênio, podendo haver bradicardia, assistolia ou fibrilação ventricular.

Paradoxalmente, o afogamento em água fria tem melhor prognóstico em crianças do que em águas aquecidas, pois a hipotermia tem efeito protetor cerebral quando ocorre antes da hipóxia.

A morte por afogamento geralmente advém de uma das causas listadas
a seguir:

• morte cerebral por lesão hipóxico-isquêmica grave;
• síndrome da angústia respiratória aguda;
• disfunção de múltiplos órgãos e sistemas por lesão hipóxico-isquêmica
prolongada;
• sepse por pneumonia aspirativa ou infecções nosocomiais.

Tratamento

Estudos realizados por Marchand et al. (2008) evidenciam a importância do suporte básico de vida (BLS), que é rápido e eficaz na sobrevida e na diminuição de comorbidades de crianças vítimas de afogamento. Os principais objetivos do atendimento pré-hospitalar são: ressuscitação cardiopulmonar, recuperação da hipóxia e reversão da hipotermia. As vítimas de afogamento normalmente ingerem e aspiram grande quantidade de água, prejudicando a reanimação.

Inicialmente, deve-se retirar a vítima da água o mais rápido possível, adotando, de preferência, a posição vertical ou com a cabeça acima do nível do corpo, para evitar aspiração de líquido em caso de vômitos. É importante tomar cuidado ao resgatar a vítima de afogamento, pois pode haver lesão cervical ou traumatismo  cranioencefálico, por queda ou acidente de mergulho.

Se a vítima estiver respirando, deve-se posicioná-la em decúbito lateral, com a cabeça em um nível inferior ao do corpo para reduzir o risco de aspiração em caso de vômito. Em caso de vítima inconsciente, com pulsos não palpáveis, posicioná-la em decúbito dorsal e iniciar manobras de reanimação. A técnica de reanimação cardiorrespiratória (RCP) é a mesma utilizada nos casos que envolvem parada cardiorrespiratória.

Compressões abdominais e manobra de Heimlich (manobra para desengasgo) não demonstraram benefícios em vítimas de afogamento, a menos que haja suspeita de obstrução por corpo estranho. Além disso, essas manobras podem induzir vômito e aspiração do conteúdo gástrico. Em caso de vômito, recomenda-se virar a cabeça da vítima lateralmente e remover o vômito com o dedo indicador.

Geralmente, as manobras de aquecimento são iniciadas logo após o resgate da vítima, com cobertores e inalação de oxigênio aquecido. No ambiente hospitalar, além das medidas anteriores, também se utiliza soro aquecido.

Prevenção

Conhecimento é poder quando se trata de prevenir afogamentos na infância. Aqui estão algumas dicas para garantir a segurança das crianças em torno da água:

  1. Aprendizado contínuo: Ensine às crianças a nadar assim que possível. Aulas de natação podem ser uma ótima maneira de ensinar habilidades aquáticas essenciais e promover a confiança na água.

  2. Supervisão constante: Nunca deixe crianças sozinhas perto da água, mesmo que seja apenas por um momento. Designe um adulto responsável para supervisionar atentamente enquanto as crianças brincam na água.

  3. Avaliação do ambiente: Antes de permitir que as crianças entrem na água, verifique o ambiente em busca de possíveis perigos, como brinquedos flutuantes, escorregadios ou objetos submersos.

  4. Uso de dispositivos de segurança: Considere o uso de dispositivos de flutuação pessoal, como coletes salva-vidas, especialmente para crianças que não sabem nadar proficientemente. No entanto, lembre-se de que esses dispositivos não substituem a supervisão atenta.

  5. Educação sobre água segura: Ensine às crianças os princípios básicos de segurança aquática, como nunca correr ou empurrar perto da água, não nadar em áreas não supervisionadas e nunca mergulhar em águas rasas.

  6. Conscientização sobre afogamento passivo: Esteja ciente do afogamento passivo, no qual uma criança pode se afogar silenciosamente, sem fazer barulho ou se debater. Preste atenção em sinais de angústia na água, como cabeça inclinada para trás, olhos vidrados ou ausência de movimento.

  7. Foco total: Evite distrações, como telefones celulares ou conversas, ao supervisionar crianças na água. Mantenha o foco total na segurança delas a todo momento.

  8. Proibição de brincadeiras perigosas: Discuta com as crianças sobre brincadeiras perigosas na água, como empurrar, pular em cima de outras pessoas ou prender a respiração por períodos prolongados. Essas atividades podem aumentar significativamente o risco de afogamento.

  9. Conscientização sobre o perigo de drenos de piscina: Ensine às crianças sobre os perigos dos drenos de piscina e o risco de prender cabelos, roupas ou partes do corpo neles. Certifique-se de que os drenos estejam em conformidade com as regulamentações de segurança e sempre supervisione as crianças na piscina.

Conclusão

Combinando educação, supervisão atenta e medidas preventivas, podemos trabalhar juntos para reduzir os riscos de afogamento e garantir que nossas crianças possam desfrutar da água de forma segura e divertida.

Ao implementar essas práticas de segurança e educar continuamente as crianças e os adultos sobre os perigos da água, podemos ajudar a reduzir significativamente o risco de afogamento na infância e garantir um ambiente aquático mais seguro para todos.

Autor: Rogério de Jesus

Enfermeiro | Especialização em Oncologia Clínica e Urgências Oncológicas | Especialização em Enfermagem na Atenção Primária com Ênfase na Estratégia Saúde da Família

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